segunda-feira, 10 de junho de 2013

A república do “eu não sabia”



Nenhum governante deveria mentir. Muito menos institucionalizar a mentira. Oferecer-se ao público e, de cara lavada, dizer que não sabia o que todo mundo sabe que o dirigente sabia. Ainda que se dê o benefício da dúvida e se admita que por vezes governantes não saibam o que se passa embaixo de seus narizes, é impossível admitir o não saber como padrão.

Oficializada pelo ex-presidente Lula, a república do “eu não sabia” virou moda.

Lula jurou que foi traído, que nada sabia sobre o mensalão. No mesmo tom, disse ter sido “apunhalado pelas costas” pela sua ex-protegida Rosemary Noronha, que utilizava da intimidade com o presidente para traficar mimos.

Lula também não sabia das peripécias de José Dirceu, que fora o craque, o capitão de seu time, que, por sua vez, desconhecia que seu assessor Waldomiro Diniz tinha negociatas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Assim como José Genoíno assinou sem saber os empréstimos do Banco Rural que lastrearam parte do mensalão.

Quando era ministro da Fazenda de Lula, Antonio Pallocci chegou a alegar que não sabia dirigir em Brasília, e, portanto, não poderia ter chegado pilotando um Peugeot cinza na casa da alegria do Lago Sul, conforme o caseiro Francenildo denunciara. Mais: não sabia e jamais soube da quebra do sigilo bancário do caseiro.

A lista do “eu não sabia” é infinda.

Aloizio Mercadante não sabia da compra do dossiê na qual o seu assessor foi flagrado e muito menos que a ação ocorrera para beneficiar a sua campanha ao governo do Estado e a de seu chefe Lula, que não sabia do envolvimento do seu assessor Freud Godoy na lambança dos aloprados.

O ex-ministro Fernando Haddad, hoje prefeito de São Paulo, não sabia dos kits contra homofobia que chegariam a seis mil escolas, jogados no lixo depois de suspensos pela presidente Dilma Rousseff. Alexandre Padilha também não sabia da campanha “Eu sou feliz sendo prostituta”, veiculada por seu Ministério. Igualmente, Jorge Hereda, presidente da Caixa, não sabia que seus técnicos tinham mexido nas datas do pagamento do Bolsa Família, estopim para o boato de término do programa e para a corrida alucinada de beneficiários a agências, com quebradeiras e feridos.

Vendida por marqueteiros como exímia gestora, centralizadora e mandona, Dilma não foge ao figurino. É enganada toda hora. Nada sabia sobre as trapaças de Erenice Guerra, e, supõe-se, nada sabe das aprontações de auxiliares que ela própria faxinou e que agora renomeia.

Ninguém sabia que a refinaria de Pasadena (EUA) nada valia. Daí o equívoco de se pagar por ela U$ 1,18 bilhão. Uma conta que, ignorantes, não sabíamos.


Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'.

sábado, 11 de maio de 2013

‘CONTRA-CAMPANHA’ ELEITORAL ANTECIPADA - 1ª PARTE



O ministro Fernando Pimentel não foi, nem de longe, um dos que se empenharam verdadeiramente para a fundação e solidificação do PT em Minas Gerais. Pelo menos seu nome não ficou identificado com a história do PT como ficaram Sandra Starling, Luiz Soares Dulci, João Batista dos Mares Guia, Nilmário Miranda, Tilden Santiago, Carlão, Fernando Cabral, Virgílio Guimarães e tantos outros. No máximo, se é que foi o caso, agia nos bastidores, o que é até provável, dada a sua vocação para agir às escondidas, de forma sorrateira, sempre conspirando para atingir seus alvos que hoje os sabemos, não se importando nunca com quem tivesse que tirar do seu caminho nem a forma de fazê-lo.

Foi o então prefeito Patrus Ananias o responsável por inserir Fernando Pimentel no rol dos protagonistas da política de Minas, nomeando-o seu secretário da Fazenda. Importante ressaltar que protagonismo não significa necessariamente papel de mocinho, como se vê nesse caso.

Durante o primeiro mandato do Dr. Célio de Castro como prefeito de BH e, mantido no cargo de secretário da Fazenda, Pimentel não mediu esforços para substituir o vice-prefeito na chapa que disputaria a reeleição, no que logrou êxito absoluto. Pimentel não apenas se tornou o candidato a vice do Dr. Célio como foi o vice que mais apareceu e falou nos programas eleitorais de rádio e TV. Àquela altura, já colocava em prática suas estratégias para roubar a cena e o espaço do “Dr. BH”.

Com o afastamento do prefeito Célio de Castro para tratamento de saúde, vítima que fora de derrame cerebral, Fernando Pimentel tornou-se prefeito em exercício de BH e foi nesses tempos que começou a mostrar suas garras e, com isso, deixou claro que não estava para brincadeiras.

Um bom vice é aquele que, na função do titular, age com discrição absoluta e, como isso não fazia parte dos planos de Pimentel, ele logo tratou de, enquanto tocava a máquina administrativa, pôr em prática sua mais ousada tática até então, com a finalidade de assumir definitivamente a prefeitura de BH, tirando o “em exercício” do tratamento que antecedia seu nome.

A ação consistia em encontrar um vereador que se prestasse para o papel de seu laranja, a fim de apresentar Projeto de Lei propondo a aposentadoria do prefeito afastado, Dr. Célio de Castro.

Talvez, naquele momento, e ouso dizer, com certeza, naquele momento, a esperança de voltar a servir o povo de Belo Horizonte como seu prefeito eleito, era o que mantinha a esperança de recuperação do “Dr. BH”. Pois o Fernando da Dilma não pensou duas vezes para abreviar os dias daquele que lhe dera espaço e consideração.

Depois disso, trair e passar feito um trator sobre Patrus Ananias seria tão fácil como tirar pirulito das mãos de criança.

A seguir, o início da trajetória que lhe confere o título de prefeito mais corrupto da história de Belo Horizonte.

Leonel Porto

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO DOS VEREADORES DE BH



Nesse momento, em que a Câmara Municipal de Belo Horizonte se tornou manchete de jornais quase que diariamente, resolvi fazer uma breve e incipiente análise acerca do seu funcionamento neste início de legislatura, no tocante aos custos do seu funcionamento.

A Câmara Municipal de Belo Horizonte possui 41 vereadores e, considerando que a previsão de gastos para 2013 é de R$ 193.036.759,00 (cento e noventa e três milhões, trinta e seis mil e setecentos e cinquenta e nove reais) e, considerando ainda, que não haverá nenhuma suplementação orçamentária, o que é pouquíssimo provável que ocorra, cada vereador da Capital custará aos cofres que recolhem o dinheiro suado da população, aproximadamente R$ 4.708.213,63 (quatro milhões, setecentos e oito mil, duzentos e treze reais e sessenta e três centavos). Apenas em 2013!

Agora, vamos analisar o custo-benefício de um vereador. Vamos fazer isso de forma bem superficial e considerando apenas essa dinheirama que é destinada legalmente para o nosso Legislativo Municipal. Sim, porque se levarmos em conta também o dinheiro que invade os bolsos de vários vereadores oriundos de extorsão a empresários que têm interesse em aprovar leis que os beneficiem, além de aumentar muitos zeros em nossas contas, vai expor ainda mais indignação. Indignação com os fatos, com a nossa incapacidade de pormos ponto final nesse tipo de barbaridade e, em alguns casos, com a nossa omissão.

Estamos no quinto mês do ano e, portanto, já gastamos R$ 80.431.982,91 (oitenta milhões, quatrocentos e trinta e um mil, novecentos e oitenta e dois reais e noventa e um centavos) com a Câmara Municipal, ou, R$ 6.702.665,24 (seis milhões, setecentos e dois mil, seiscentos e sessenta e cinco reais e vinte e quatro centavos) com cada “nobre edil”.

Esse valor pode ser pouco ou muito. O que determina isso é o que eles fizeram nesse período do ano.

Pois bem, além de muitas reuniões para definir a Mesa Diretora, a composição das diversas comissões e os debates em plenário para cobrar espaços para seus “cabos eleitorais” no Poder Executivo (Poder que eles deveriam fiscalizar!), nossos vereadores “já” tiveram 04 (quatro) Projetos de Leis sancionados em 2013. Isso mesmo, 04 (quatro) PL’s foram transformados em Leis. São tão poucos que dá para citar todos, vejam:

Lei nº 10.613, de 15/01/2013 – Institui o Dia Municipal de Proteção ao Uso de Drogas no Município;

Lei nº 10.614, de 15/01/2013 – Institui o Dia Municipal de Combate à Intolerância no Município;

Lei nº 10.615, de 15/01/2013 – Institui o Dia Municipal da Cultura Evangélica no Município;

Lei nº 10.616, de 15/01/2013 – Estabelece critérios para a realização de obra pública em vias públicas, corredores de trânsito e principais acessos de Belo Horizonte.


Pois bem, a aprovação de cada uma dessas Leis custou, aproximadamente, R$ 20.107.995,72 (vinte milhões, cento e sete mil, novecentos e noventa e cinco reais e setenta e dois centavos).

Não vou falar mais nada. Tire suas próprias conclusões.

P.S.: Não serve de consolo, mas, nossa Câmara Municipal não é pior do que as outras casas legislativas Brasil a fora, municipais, estaduais e federal!

Leonel Porto

terça-feira, 7 de maio de 2013

VEREADORES DE BH BRIGAM PELO DIREITO A MENSALÃO - Assim como quase todos os legisladores deste País



Vereador vem de “verea”, originário do grego antigo, significando vereda, caminho, ou seja, Vereador deveria ser o que vereia, trilha, orienta os caminhos. Deveria, mas, não é o que todos vemos na prática.

Nesta terça-feira, 07/05/2013, vereadores da Capital dos mineiros protagonizaram uma discussão que serve bem de exemplo para mostrar que estão ali para tudo, menos para desempenhar as verdadeiras funções para as quais foram eleitos.

Ao invés de discutirem projetos de leis ou as políticas públicas a serem implantadas por programas governamentais, duas das quatro principais funções dos nobres edis, optaram por expor as suas estratégias para não terem que cumprir com as outras duas, quais sejam, fiscalizar a Administração e apreciar e julgar as contas públicas dos administradores e apurar as infrações político-administrativas por parte do prefeito e dos vereadores.

O motivo da briga foi a disputa por cargos na Prefeitura. De um lado, o vereador professor Wendel, que é do mesmo partido do prefeito, reclamando que não conseguiu “emplacar” nenhuma indicação sua para ocupação de cargo no Poder Executivo, Poder que ele deveria fiscalizar. De outro lado, o vice-presidente do Legislativo, Wellington Magalhães, vangloriando-se de ter tido mais capacidade que o colega para se vender para o Executivo, tendo emplacado até secretário-adjunto, além de outros correligionários em escalões menores.

O motivo da briga desta tarde pode ter ficado restrito a esses dois vereadores, mas, essa não é a exceção, infelizmente, é a regra!, e também não é um privilégio do Legislativo de BH. Isso é o que ocorre em todos os legislativos deste País, municipais, estaduais e federal.

E sabe que nome dar a essa prática nefasta em que um poder se vende para o outro? MENSALÃO!

Todos os meses os chefes dos poderes executivos utilizam o dinheiro do povo para pagar apadrinhados dos legislativos objetivando a aprovação de leis, de contas e de outras formas de corrupção praticadas.

Isso é MENSALÃO, sim!

Leonel Porto

sábado, 4 de maio de 2013

‘CONTRA-CAMPANHA’ ELEITORAL ANTECIPADA - INTRODUÇÃO



Assim como existe campanha eleitoral antecipada, inclusive com a utilização de rede nacional de rádio e TV, como vem fazendo a atual ocupante do Palácio do Planalto, vou iniciar, a partir de agora, a minha ‘contra-campanha’ eleitoral antecipada.

Meu alvo é o candidato a governador de Minas, o papagaio de pirata da presidente Dilma e seu maior protegido com a força que tem o Planalto. E olha que não há bons que precisam de proteção tão ostensiva quanto escusa!

Travarei uma luta de força amplamente desfavorável, posto que não passo de um Davi diante de um Golias. Todavia, apesar da pouca força aparente, trago comigo, como arma, a verdade de fatos incontestes e a determinação dos que não se dobram diante de tamanha dificuldade, qual seja, contribuir para que o povo mineiro se veja livre do tirano e corrupto Fernando Damata Pimentel.

O hoje ministro Fernando Pimentel, principal mentor da presidente Dilma, não é, nem de longe, tão inteligente quanto o principal mentor do ex-presidente Lulla, o agora comprovado chefe de quadrilha Zé Dirceu, mas é tão corrupto e golpista quanto ele.

Pimentel é daqueles que se propõe fazer qualquer coisa que mantenha viva a sua sanha pelo protagonismo, pelo poder absoluto e relatar alguns dos atos inescrupulosos que praticou e pratica vai demandar tempo e espaço, daí a necessidade de realizar essa tarefa em partes e daí a necessidade de se iniciar essa tarefa já, pois falta pouco mais de um ano para a definição da sua candidatura e muito o que dizer.

O déspota em questão não precisa fazer mais nada de errado na sua vida pública para estrelar o rol dos políticos mais perversos e vis dos tempos atuais, quiçá de todos os tempos. O que fez de errado até aqui é suficiente para uma condenação exemplar, condenação que, se não vier pela Justiça, virá pela rejeição popular nas urnas.

Infelizmente, nas hostes do senador e presidenciável Aécio também há um pretenso candidato à vaga de candidato a governador que vale tanto quanto Pimentel, mas, não vou me ater a ele neste momento, primeiro, porque há grande possibilidade de ele não alcançar seu objetivo e, segundo, porque não quero mirar dois alvos a um só tempo. Ademais, tenho muita esperança de que o senador Aécio tenha a oportunidade de conhecer bem a todos que o cercam e possa contribuir, ainda que involuntariamente, para que eu não tenha que anular meu voto, pois que, votar é coisa que prezo muito.

Feita essa pequena introdução, preparem-se para, daqui para diante, não apenas relembrarem algumas das coisas horrendas que fez a besta Pimentel, mas, também, para tomarem conhecimento de coisas que vocês, leitores, ainda não têm conhecimento.

Leonel Porto

terça-feira, 30 de abril de 2013

Manual da Bravata, volume 1: Mentiras e contradições de Lula, Dilma e do PT

"Lula disse que seu governo não roubava nem deixava roubar. E Dirceu vai parar na cadeia.

PT disse que faria Justiça Social no Brasil. E o poderoso Palocci mandou quebrar o sigilo bancário do humilde caseiro Francenildo.

Dilma disse que não aceitaria corrupção em seu governo. E faxinou o Conselho de Ética para salvar o ministro Pimentel.

Dilma disse que seu governo investiria na qualidade da Educação. E a Educação do Brasil despencou no Ranking da Unesco.

Dilma prometeu desonerar a Cesta Básica. E o preço dos alimentos subiu como nunca antes na história deste país.

Dilma prometeu um futuro melhor aos brasileiros. E cartilhas de seu governo ensinaram crianças a usar drogas.

Dilma disse que combateria o crime organizado no Brasil. E cortou metade da verba nacional de segurança pública.

Dilma prometeu baixar os juros. E o Banco Central aumentou a Taxa Selic para 7,5% ao ano.

Dilma disse que seria "Minas na Presidência". E vetou os royalties do minério.

Dilma jurou amor por Minas Gerais. E vetou projeto de Aécio Neves que concedia isenção fiscal para as áreas mais pobres do estado.

Lula disse que a Copa do Mundo no Brasil não teria dinheiro público. E Dilma tirou R$ 5 Bilhões da Saúde para colocar na Copa."

João Paulo M.

domingo, 7 de abril de 2013

Deus está vivo e bem no Morro do Bumba

Nas reuniões clandestinas dos anos 1960, Vera Silvia Magalhães, brincando, sugeria como agenda: quem somos, onde estamos e para onde vamos? No início desta campanha presidencial, creio que seria razoável abordar esse tema, desde que se desçam, passo a passo, os degraus da abstração.

Na nossa jovem democracia, os governos levam enorme vantagem na partida: arrecadam fortunas dos empresários amigos e gastam fortunas do Tesouro com propaganda sobre realizações e personalidade do governante. As despesas da viagem de Dilma Rousseff a Roma, por exemplo, deveriam ser computadas nos gastos de campanha.

Como candidata montada em milhões de reais, Dilma é um artefato urdido pelo PT, por especialistas em marketing, um cabeleireiro de origem japonesa, cirurgiões plásticos e consultores de estilo. A rigidez dos ombros, o cansaço no andar indicam que está sobrecarregada pela máscara afivelada ao seu corpo. E algumas frases desconexas revelam que gostaria de deixar de fazer sentido, como os garotos que escreveram receita de Miojo ou o hino dos Palmeiras em suas composições no Enem.

Dilma viajou para ser fotografada ao lado do papa Francisco e dizer: "O papa é argentino, mas Deus é brasileiro". Nada melhor para uma campanha: posar ao lado do papa, brincar com a rivalidade com os argentinos, voltar para Brasília ainda mais popular do que saiu. A opção pelo luxo, na Via Veneto, no momento em que a Igreja fala de humildade não importa. Uma coisa é a Igreja, outra é o governo democrático popular, sem escrúpulos pequeno-burgueses, na verdade, sem escrúpulos de ordem alguma. Não importa que os estrangeiros vejam na sua frase uma certa dificuldade nacional de superar o complexo de inferioridade. Tudo isso é problema para a minoria que não tem peso nos índices de popularidade. O povo está satisfeito, as pesquisas são favoráveis e é assim que se pretende marchar para 2014.

Lula e José Dirceu foram heróis da vitória em 2002. Dirceu hoje trabalha para empresas junto ao governo. Lula viaja prestando serviços às empreiteiras. Lembram um pouco a desilusão dos jovens rebeldes no filme O Muro, de Alan Parker, inspirado na música de Pink Floyd. Um dos ídolos da rebeldia juvenil aparece no final melancolicamente vestido como porteiro de hotel, chamando táxis, ganhando gorjetas.

Lula fazia discursos contra o amoralismo do capital, a influências das empreiteiras, e aquelas frases de comício: um sonho sonhado junto não é sonho... Confesso que aplaudia e admito uma dose de romantismo incompatível com a minha idade. Muitos ídolos do rock, pelo menos, morreram de overdose. Na esquerda brasileira, passaram a trabalhar para a Delta ou viajar a soldo da Odebrecht. A popularidade do governo intimida e os candidatos de oposição não fazem um contraponto, mas se definem como uma variação melódica.

Ao deixar o luxuoso Hotel Excelsior, em Roma, Dilma afirmou, ante as mortes em Petrópolis, que era preciso tomar medidas mais drásticas para tirar as pessoas das áreas de risco. Levar para onde? Não se construiu uma única casa popular em Petrópolis. No Morro do Bumba, em Niterói, alguns moradores foram transferidos para um quartel da PM depois da tragédia que matou 48 pessoas em 2010. Os 11 prédios do PAC construídos para abrigá-los estão caindo, antes de inaugurados. Há fendas nas paredes e vê-se que os construtores usaram material barato. Cerca de R$ 27 milhões foram para o ralo. Deus está vivo e bem no Morro do Bumba. Se fossem para os novos prédios, a armadilha cairia sobre a cabeça dos desabrigados.

Quem tem boca (no governo) vai a Roma. Depois é preciso dar uma olhada na Serra Fluminense, verter aquelas lágrimas de praxe, no melhor ângulo e na melhor luz, para as inserções na TV. A mãe do PAC deveria visitar as obras destinadas ao Morro do Bumba com o carinho com que as mães visitam os filhos no presídio, os que deram errado mas nem por isso são esquecidos.

O governo costuma dizer que a oposição mais consistente é a da imprensa. Essa é sua desgraça e sua sorte. O incessante turbilhão das notícias obriga a imprensa a mover-se sem parar para cobrir o que acaba de acontecer. Sobra pouco tempo para retirar esqueletos do armário e voltar aos personagens de nomes bizarros que povoam os escândalos nacionais. A única maneira de quebrar a hegemonia perversa que contribuiu para devastar moralmente o Congresso, estreitar nossa política externa, confinar a economia nos limites do consumismo é fortalecer uma oposição real. Ela não se pode ater ao horizonte de uma só eleição. Precisa trabalhar todos os dias, imediatamente após a contagem dos votos.

Em política não existem eleições ganhas antecipadamente. Mas é preciso não contar com milagres. Mesmo eles só favorecem os que estão de pé, os que cedo madrugam. As pesquisas dizem que a maioria dos brasileiros está contente com o governo Dilma. A sensação de bem-estar impulsiona-os a aprovar o governo e ignorar as profundas distorções que impõe ao País.

Não é a primeira nem a última vez que a minoria se coloca contra uma onda de bem-estar fundamentada apenas no aumento do consumo. No passado éramos bombardeados com a inscrição "Brasil, ame-o ou deixe-o". Agora ninguém se importa muito se você ama ou deixa o País.

O mecanismo de dominação é consentido. Nosso universo se contraiu e virou um mercado onde tudo se compra e se vende, secretarias negociam ilhas, ex-presidentes cobram dívidas de empreiteiras e, na terra arrasada do Congresso, o pastor Marco Feliciano posa fazendo uma escova progressiva. Parafraseando Dilma, são necessárias medidas mais drásticas para tirar essa gente de lá.

A única arma à nossa disposição é o voto. A ausência de uma oposição organizada e aguerrida é uma lacuna. Quando há uma base social para a oposição, dizem os historiadores, ela acaba aparecendo dentro do próprio governo. E aparece discreta, suave, como discretos e suaves são os que se lançam agora diante da milionária máquina topa-tudo do PT.

Fernando Gabeira

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A Arte da Articulação

Pode-se afirmar, hoje, sem medo de errar, que o Brasil possui dois articuladores políticos que estão anos-luz à frente de qualquer outro. São antagônicos, defendem pontos de vista totalmente opostos um do outro, utilizam meios bastantes díspares também e, se não se pode afirmar que um é o grande articulador do bem, é plenamente justo dizer que o outro é o grande articulador do mal.

Pretendo falar mais do primeiro, mas não seria justo deixar de citar pelo menos algumas razões para chamar Zé Dirceu de “grande articulador político do mal”. Para não estender muito, bastaria lembrar que ele não convive com escrúpulos há muito, se é que já os teve, e dizer que o fato de ele utilizar todas as formas de corrupção ao seu alcance é seu maior defeito seria terrivelmente injusto com a coragem que ele demonstrou ter até para determinar a eliminação das vidas de companheiros seus. Esse poder que ele se dá para tanto não é porque ele se considera Deus, mas porque ele tem um desejo sarcástico de ser considerado o Stalin tupiniquim (o que, para ele, já o colocaria acima de Deus!).

Já o primeiro encontra-se numa difícil caminhada que tem por objetivo abreviar o projeto de poder em curso no País. A caminhada é extremamente difícil, sobretudo, por causa do aparelhamento do Estado executado pelo PT, além da disposição para a prática de uma forma de governar sem o mínimo comprometimento com a ética.

Pois não é que o senador mineiro Aécio Neves está começando a virar o jogo!

Quando todos imaginavam que Aécio assumiria no senado o papel de “batedor no governo”, papel que já fora desempenhado por Artur Virgílio, Tasso Jereissati, Mão Santa e outros que foram derrotados com ira e com muito dinheiro de caixa dois (recursos não contabilizados, conforme o PT prefere dizer), o tucano preferiu trabalhar como lhe ensinara através de longa convivência o seu avô, o presidente da travessia Tancredo Neves.

A estratégia utilizada para tirar a quadrilha do PT da prefeitura de Belo Horizonte é digna de um “10 com louvor”, mas, isso nem foi o mais importante, já que a meta é tirar a quadrilha do PT e todos os seus comparsas do Planalto e, nesse sentido, a estratégia é ainda mais ousada e poderá ser fatal para o projeto de poder dos “mensaleiros”. Trata-se do divórcio que Aécio está a patrocinar entre o PT e um de seus principais parceiros, o PSB.

A amizade amplamente divulgada entre Aécio e Eduardo Campos, a garantia acreditável de que após um mandato do mineiro o pernambucano poderá disputar a presidência e a certeza absoluta de que o PT jamais prometeria apoiar Eduardo Campos em detrimento de qualquer nome petista ou que o PT jamais cumpriria uma promessa dessas, caso a fizesse, conferiu às eleições municipais de 2012 uma importância imensurável.

Em 2008, Aécio lançou Márcio Lacerda candidato a prefeito de Belo Horizonte, um executivo competente, mas com pouca empatia popular. Permitiu a presença do PT na aliança, para obter uma vitória sem atropelos e para fazer a transição de forma paulatina, já que o partido estava no poder desde 1993. Sem nenhuma modéstia, no entanto, o PT passou quatro anos dizendo que foi o PT quem elegeu Márcio em 2008. Pois bem, os petistas tiveram o seu próprio candidato e a oportunidade de mostrar a todos que eram eles que tinham a força na capital dos mineiros.

Todavia, a vitória da possível chapa presidencial de 2014 Aécio/Eduardo Campos, representada pela eleição de Mário Lacerda, significou a vitória no primeiro turno de uma eleição com três turnos.

A leitura que faço nesse momento acerca da conjuntura política pode estar equivocada, mas é o que estou conseguindo ler.

Leonel Porto

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Engula o choro, presidente. Engula o choro ao falar da tragédia de Santa Maria


"Engula o choro, presidente. Engula o choro ao falar da tragédia de Santa Maria. Engula o choro e todos os problemas desse país que nele estão escancarados. Engula que o medo do segurança de ser demitido neste país é maior do que sua consciência de deixar as pessoas saírem sem pagarem suas contas para não morrerem. Engula a soberba dos donos de empresa desta nação que não estão nada preocupados com pessoas como eu e até mesmo como a senhora porque estão focados demais em lucrar, e preferem fechar as portas como numa câmara de gás a ter prejuízos. Engula a pressão que todos os seus funcionários sentem todos os dias. Engula que para arcar com seus altíssimos impostos, todos eles dão um jeitinho bem brasileiro de se desviar dos regulamentos e leis. Engula que os órgãos responsáveis por evitar que isso aconteça não funcionam. Engula que eles deixaram essa, entre tantas e tantas casas mais, funcionar sem licença. Engula que provavelmente alguém que também ganha pouquíssimo aceitou um suborno para que isso acontecesse. Engula que a senhora deu "é" sorte por ser apenas essa casa entre todos os tantos lugares que deveriam estar fechados, que caiu na boca da mídia. Engula a mídia que vai atacar com todo o sensacionalismo possível em cima das famílias que estão procurando celulares em cima de corpos para reconhecer seus filhos. Engula as operadoras que não funcionam e que provavelmente impediram uma série de vítimas a pedirem socorro. Engula que o socorro que chega para se enfiar em lugares como este, pegando fogo, cheio de corpos de jovens para serem resgatados, recebe um salário vergonhoso, com descontos ainda mais vergonhosos, e ainda assim executam um trabalho triste e digno antes de voltarem para a casa e agradecerem por seus próprios estarem dormindo.

Não, presidente. Não chore ao falar da tragédia. Faça! Faça alguma coisa. E pare de nos dar como exemplos uma série de catástrofes para tomar medidas idiotas que não valerão de nada alguns meses depois. Não se emocione. Acione! Acione a todos os órgãos públicos, faça uma limpa em sua maldita corrupção e devolva à segurança pública, às instituições sérias, aos professores, aos bombeiros, aos enfermeiros, aos seguranças, aos jovens, o mínimo de dignidade. Não faça um discurso. Mude o percurso.

Mude tudo porque estamos cansados de ver nossos iguais pegando fogo, morrendo afogados, morrendo nas filas, morrendo no crack, morrendo, morrendo, morrendo, e tendo como última imagem aquela TV aos fundos anunciando o fim de mais uma bilionária obra de estádio de futebol.

Não, presidente. Desculpe, mas na minha frente, a senhora não pode chorar. Não pode chorar sua culpa. Não pode chorar sua inércia. Não pode chorar no Chile mas também não pode chorar em Santa Maria. Porque isso é muito maior do que só um acidente. Isso é muito maior do que só sua comoção. Engula o seu choro, presidente. O seu, o dos jovens que perceberam que não teriam mais o que fazer que não morrer, e em especial, o de seus amigos e familiares, que em um país como esse, não têm outra opção que não chorar.

Engula o choro, presidente.”

QUINTA-FEIRA, 31 DE JANEIRO DE 2013

Marcella Martins, cidadã de Santa Maria (RS)