domingo, 3 de fevereiro de 2013

A Arte da Articulação

Pode-se afirmar, hoje, sem medo de errar, que o Brasil possui dois articuladores políticos que estão anos-luz à frente de qualquer outro. São antagônicos, defendem pontos de vista totalmente opostos um do outro, utilizam meios bastantes díspares também e, se não se pode afirmar que um é o grande articulador do bem, é plenamente justo dizer que o outro é o grande articulador do mal.

Pretendo falar mais do primeiro, mas não seria justo deixar de citar pelo menos algumas razões para chamar Zé Dirceu de “grande articulador político do mal”. Para não estender muito, bastaria lembrar que ele não convive com escrúpulos há muito, se é que já os teve, e dizer que o fato de ele utilizar todas as formas de corrupção ao seu alcance é seu maior defeito seria terrivelmente injusto com a coragem que ele demonstrou ter até para determinar a eliminação das vidas de companheiros seus. Esse poder que ele se dá para tanto não é porque ele se considera Deus, mas porque ele tem um desejo sarcástico de ser considerado o Stalin tupiniquim (o que, para ele, já o colocaria acima de Deus!).

Já o primeiro encontra-se numa difícil caminhada que tem por objetivo abreviar o projeto de poder em curso no País. A caminhada é extremamente difícil, sobretudo, por causa do aparelhamento do Estado executado pelo PT, além da disposição para a prática de uma forma de governar sem o mínimo comprometimento com a ética.

Pois não é que o senador mineiro Aécio Neves está começando a virar o jogo!

Quando todos imaginavam que Aécio assumiria no senado o papel de “batedor no governo”, papel que já fora desempenhado por Artur Virgílio, Tasso Jereissati, Mão Santa e outros que foram derrotados com ira e com muito dinheiro de caixa dois (recursos não contabilizados, conforme o PT prefere dizer), o tucano preferiu trabalhar como lhe ensinara através de longa convivência o seu avô, o presidente da travessia Tancredo Neves.

A estratégia utilizada para tirar a quadrilha do PT da prefeitura de Belo Horizonte é digna de um “10 com louvor”, mas, isso nem foi o mais importante, já que a meta é tirar a quadrilha do PT e todos os seus comparsas do Planalto e, nesse sentido, a estratégia é ainda mais ousada e poderá ser fatal para o projeto de poder dos “mensaleiros”. Trata-se do divórcio que Aécio está a patrocinar entre o PT e um de seus principais parceiros, o PSB.

A amizade amplamente divulgada entre Aécio e Eduardo Campos, a garantia acreditável de que após um mandato do mineiro o pernambucano poderá disputar a presidência e a certeza absoluta de que o PT jamais prometeria apoiar Eduardo Campos em detrimento de qualquer nome petista ou que o PT jamais cumpriria uma promessa dessas, caso a fizesse, conferiu às eleições municipais de 2012 uma importância imensurável.

Em 2008, Aécio lançou Márcio Lacerda candidato a prefeito de Belo Horizonte, um executivo competente, mas com pouca empatia popular. Permitiu a presença do PT na aliança, para obter uma vitória sem atropelos e para fazer a transição de forma paulatina, já que o partido estava no poder desde 1993. Sem nenhuma modéstia, no entanto, o PT passou quatro anos dizendo que foi o PT quem elegeu Márcio em 2008. Pois bem, os petistas tiveram o seu próprio candidato e a oportunidade de mostrar a todos que eram eles que tinham a força na capital dos mineiros.

Todavia, a vitória da possível chapa presidencial de 2014 Aécio/Eduardo Campos, representada pela eleição de Mário Lacerda, significou a vitória no primeiro turno de uma eleição com três turnos.

A leitura que faço nesse momento acerca da conjuntura política pode estar equivocada, mas é o que estou conseguindo ler.

Leonel Porto

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Engula o choro, presidente. Engula o choro ao falar da tragédia de Santa Maria


"Engula o choro, presidente. Engula o choro ao falar da tragédia de Santa Maria. Engula o choro e todos os problemas desse país que nele estão escancarados. Engula que o medo do segurança de ser demitido neste país é maior do que sua consciência de deixar as pessoas saírem sem pagarem suas contas para não morrerem. Engula a soberba dos donos de empresa desta nação que não estão nada preocupados com pessoas como eu e até mesmo como a senhora porque estão focados demais em lucrar, e preferem fechar as portas como numa câmara de gás a ter prejuízos. Engula a pressão que todos os seus funcionários sentem todos os dias. Engula que para arcar com seus altíssimos impostos, todos eles dão um jeitinho bem brasileiro de se desviar dos regulamentos e leis. Engula que os órgãos responsáveis por evitar que isso aconteça não funcionam. Engula que eles deixaram essa, entre tantas e tantas casas mais, funcionar sem licença. Engula que provavelmente alguém que também ganha pouquíssimo aceitou um suborno para que isso acontecesse. Engula que a senhora deu "é" sorte por ser apenas essa casa entre todos os tantos lugares que deveriam estar fechados, que caiu na boca da mídia. Engula a mídia que vai atacar com todo o sensacionalismo possível em cima das famílias que estão procurando celulares em cima de corpos para reconhecer seus filhos. Engula as operadoras que não funcionam e que provavelmente impediram uma série de vítimas a pedirem socorro. Engula que o socorro que chega para se enfiar em lugares como este, pegando fogo, cheio de corpos de jovens para serem resgatados, recebe um salário vergonhoso, com descontos ainda mais vergonhosos, e ainda assim executam um trabalho triste e digno antes de voltarem para a casa e agradecerem por seus próprios estarem dormindo.

Não, presidente. Não chore ao falar da tragédia. Faça! Faça alguma coisa. E pare de nos dar como exemplos uma série de catástrofes para tomar medidas idiotas que não valerão de nada alguns meses depois. Não se emocione. Acione! Acione a todos os órgãos públicos, faça uma limpa em sua maldita corrupção e devolva à segurança pública, às instituições sérias, aos professores, aos bombeiros, aos enfermeiros, aos seguranças, aos jovens, o mínimo de dignidade. Não faça um discurso. Mude o percurso.

Mude tudo porque estamos cansados de ver nossos iguais pegando fogo, morrendo afogados, morrendo nas filas, morrendo no crack, morrendo, morrendo, morrendo, e tendo como última imagem aquela TV aos fundos anunciando o fim de mais uma bilionária obra de estádio de futebol.

Não, presidente. Desculpe, mas na minha frente, a senhora não pode chorar. Não pode chorar sua culpa. Não pode chorar sua inércia. Não pode chorar no Chile mas também não pode chorar em Santa Maria. Porque isso é muito maior do que só um acidente. Isso é muito maior do que só sua comoção. Engula o seu choro, presidente. O seu, o dos jovens que perceberam que não teriam mais o que fazer que não morrer, e em especial, o de seus amigos e familiares, que em um país como esse, não têm outra opção que não chorar.

Engula o choro, presidente.”

QUINTA-FEIRA, 31 DE JANEIRO DE 2013

Marcella Martins, cidadã de Santa Maria (RS)